Pétalas ao vento

  P123  
A. Marshall | Jundiaí SP
Lágrimas que riscam o caminho da tristeza
Onde rugas testemunham o valor de cada inverno
Dedos adestrados nas agulhas de tricô
Regem o compasso em que ela tece o seu destino

Olhar um tanto opaco se conforma com a luz
Cansada e diluída pelas horas que se esvaem
Calejada pela noite, desafia a própria insônia
Respirando os velhos ares da saudade que a distrai

O antigo castiçal abriga a luz da vela jovem
Vela que de bela só possui a poesia
A chama se contorce cortejada pela brisa
Parindo nas paredes o balé negro das sombras

Murcha como a flor que vive em cores desbotadas
E parte do jardim sem que lamentem sua ausência
O tempo lhe consome seus encantos joviais
E dá ao triste pranto a condição de aprendizado

Recosta o corpo exausto, de um cansaço solitário
Foge pro silêncio e cala os ecos do passado
Aperta os finos lábios num desejo inconfessável
Avista, no horizonte, o rubro indício da alvorada

Mas fogo imune ao tempo não se apaga com o vento
Pouco ou nada sofre em quem por ele não mais chora
Nem um beijo lhe ofereça ou com seu peito lhe conforte
Transcende as incertezas de um amor que não mais volta

O sorriso lhe visita e então reage mais disposta
Solta as mechas cor de prata e as derrama pelas costas
Tal qual bela mariposa que de ousada vai à luz
Aceitando a própria morte no calor que lhe seduz

Pelo encanto aceita o fim e dá ao cansaço o seu lugar
O semblante se anuvia como os céus de fevereiro
O novelo vai ao chão junto aos seus braços delicados
Traz consigo alguns retalhos de uma echarpe inacabada

O coração sente o momento e cadencia sua marcha
Levando ao velho corpo o torpor da despedida
Fecha os olhos novamente e já não mais se sente só
A tenra mão libera a agulha pra alcançar sua eternidade.

Blogger | Mod. Ourblogtemplates.com (2008) | Adaptado e editado por Flávio Flora (2018)

Voltar