O cântico da Acauã

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Baltazar de Monte Cristo | Belo Horizonte MG
Quando cheguei, estavas dormindo,
Tua face linda e branca refletia à luz da lua.
A janela aberta, a cortina puxada até o meio,
e a doce brisa
soprava teus cabelos castanhos,
te emolduravam como uma deusa adormecida.

Ouvi o canto da Acauã, triste e solitário,
assustei, abri um pouco mais a janela,
Vi a mesma no cume de uma palmeira,
Impávida, suas penas remexiam com a brisa ligeira
Sem sair do lugar cantava intermitente.
Era sonoro, era triste seu cantar,

Não fosse a cautela de minha imaginação,
Eu diria, são agouros, simplesmente agouros e nada mais...
Volto meu olhar para o teu rosto sombrio
Lindo como jamais vi, sem maquiagem, sem batom
apenas uma sombra tênue de tua beleza natural.
A natureza te foi pródiga.

Por que nascestes tão bela?
Tão bela e pura, como anjo,
tu estás adormecida, numa alcova de cetim.
Quis te tocar, não tive coragem, ia te acordar,
a noite toda poderia te velar,
A admirar tua beleza, simplesmente ela e nada mais.

Ouvi de novo o canto da Acauã...são agouros não acredito!
São apenas cantigas, puras, lindas e nada mais.
Esperei incrédulo noite adentro, não tirava os olhos de ti,
Temia por não acordares...que pressentimento Oh! Deus!
Dormes um sono profundo, apenas um sono e nada mais.

No alto enquanto a lua brilhava, nuvens enormes e escuras,
ao fragor de ventos fortes,
formavam montanhas descomunais no infinito profundo.
Cobriram se as estrelas, o vento ruidoso dobrava a palmeira,
onde num último momento cantou de novo a Acauã, é um agouro...
ignorar não posso mais.

O vento aumenta seu furor, faíscas riscam o céu... precedendo
o ribombar de trovões assustadores,oh! céus, não pode ser...
o vento arranca o galho onde Acauã estava a cantar,
parte a mesma célere, percorre o jardim como fugaz despedida,
canta três vezes, mas não é canto, é um último agouro,
um agouro e nada mais!

Olho de novo para a cama, te vejo inerte,linda e sombria,
É profundo teu sono, enlouqueço... não pode ser...
Dormes para sempre, para sempre e nada mais!

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