A pedra da infâmia

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F. Pessoa Homem de Melo | Campina Grande PB
Que pode me servir que aquele homem tenha sofrido, se eu sofro agora?
Indagava o ancião em seu cárcere forjado
pelo avanço da idade e pela cegueira
(J. L. Borges)

Sou todas as perguntas
Sou o meu próprio nome perdido
Sou planos de um silêncio qualquer, o inaudível
Sou agonia e sou êxtase
Sou o judeu crucificado por todas as línguas, sujeito do escárnio.

Sou a Santa Teresa
O mamilo eriçado em carrara, o prazer escondido
O gozo gemendo entre as pernas
E o perdão enclausurado e frio.

Sou a vida perdida no tablado
Sou a madeira quase nobre, o esmero do assassínio
O cadafalso e o fosso arranhando os pés do desespero
Sou a sede gigantesca do mar
E sou a lágrima quente de dor e sal
No suor de todas as metáforas da morte.

Sou injunções e arremedos de ecos sob a pele
Alegorias medievas que berram lá fora
As que confundem
As que rapinam a vida
Com seu gadanho impróprio, azinhavrado metal, carcomido
Garras rubras de sangue
Desgastado alfanje da morte.

Cego, sigo caliginoso tateando as escoras do mundo
E roo as cartilagens do tempo
Equilibrando-me no vento
E na mais antiga e distante paisagem.

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