Barriga

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Nero Vinte | Magé RJ
Decidiu transportar na barriga
O passado que, por anos
Lhe pesou nas costas

Hoje, caminha mais leve
E até se mostra ereta

O passado deixou ser uma pedra
Para ser uma massa moldável
Deixou ser um corpo morto
Incrustado ao seu
Para ser uma substância que apodrece
Gelatinosa
Escorrendo em pequenas porções
Pelos vãos do organismo
Filtrada e purificada
Em meio ao sangue que corre vivo
E o tempo que escorrega lento
Até ser eliminada naturalmente
Pela urina e pelas fezes

O passado na barriga
Sai na urina e nas fezes

Nas costas, empedra e pesa

Assim, aprendeu a sentir o passado
Como fluido
Como água
Quando não, uma saliência
Um pequeno incômodo
Ajustável
Canalizável
Expelido sem dor

Uma rocha virtual
Forte mas sem resistência
Presente quando importante
Passado quando mera desinência.

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