Verso de guerra

  P176  
Rosaline Freitas | Rio de Janeiro RJ
Diante da chacina perpetrada
pelas araras,
as corolas;
do metralhar demorado
dos gafanhotos,
os grilos;
do gás lacrimogêneo
com que a noite lança a ceifa,
nos cega;
do bombardeio anunciado
pelos chiados,
os zizios;
das libélulas que sobrevoam
cidades laçadas pela chuva,
o choro,

meu verso espreita

pela persiana,
pela fechadura,
bate contra o vidro,
rasteja,
se inquieta, choraminga,
bate a testa,
passa fome,
pede o óbolo,
reza.

Trauma, talvez,
do tempo da guerra,
quando na batalha contra o inapreensível,
ficou coxo.

Blogger | Mod. Ourblogtemplates.com (2008) | Adaptado e editado por Flávio Flora (2018)

Voltar