No tempo da esperança

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Zamot | Leça do Bálio PT
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez seus efeitos escrevesse 
(Luís de Camões)

Quis a Fortuna que o descontentamento
Me tomasse, sem força nem alento.
Grãos de areia, soprados pelo vento,
Soltam-se, e desenham letras que não soletro.
Também eles, como eu, embatem nas rochas,
Nas escarpas agrestes e pintam de cor a paisagem,
Esculpindo nos versos a tua imagem.

Sinto-me como notas trinadas,
E danço à chuva em sedas bordadas,
Agitando ondas de sal e dor
Do prazer que desapareceu neste nosso amor.
Peso emoções no vento que me traz
Pensamentos que queria deleitáveis,
Mas que se tornam rebeldes e atrozes,
Como pétalas caídas que vão escrevendo no tempo
Doridos segredos de encantamento
Saltitando alacres, transportando no peito
Ânsias sinfónicas de monções em pleito
E letras alinhadas em belas composições
Que se fixam em nossos corações.
E neste rendilhado de areia, vão soprando as confissões,
Que me levam as ilusões, no mar e no tempo,
Transportando-me em sonoras folhas
Que a ti vão chegar, plenas de afeto
E que no teu colo aconchegarás,
Esperançoso que para mim voltarás.

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