Anticanto

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Nephele Bardo | Linhares ES
Não cantarei o amor melífluo e doce
Que se derrama em versos de balcão
De flor de primavera ou de verão
Não cantarei o amor voejo e infrene
Que a flébil flama flana e já fenece
Das vãs quimeras e das peles pálidas
Das juras vãs, das promessas inválidas
Dos sóis poentes e das tardes cálidas
De epiderme e poro tão-somente

Não, não cantarei o amor de céus azuis
E borboletas zéfiras dolentes
A voejar em bandos, curvilépidas
Em desmaiar de noites semitépidas
Dos sons dos serafins em nuvens brancas
De bancos e jardins

Não cantarei o amor dos olhos baços
De olhares langues, de lábios exangues
O amor é duro como o aço
É osso e pedra em meio a descompasso
É prende-e-livra em semissolto laço
Na juventude, amorpaixão
Na adultice, amoração

Na triste idade, branda compaixão
É compromisso em fel – e mui fiel –
É vime estreito no mais puro enlace
Maduro, e seco, e calmo, e persistente
Imprime, estila em vero e vivo salmo
A vida toda excede e o ar invade
A infinitude estrênua da etérea idade
Não, não cantarei o amor fugaz, subjuntivo
Inda que intenso ou que inflamado jure
Não cantarei o amor do enquanto dure

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